"Nascemos sem saber quem somos, não sabemos como pensar. Só sabemos como sentir. É por meio dos sentimentos, que o modo como somos criados traça a trajetória de nossa vida futura". (Natasha Hrazanov)
Onde começam as expectativas de uma pessoa? As necessidades de desenvolvimento das crianças é de suma importância para as fases subsequentes de suas vidas. Em outras palavras, o desenvolvimento inicial de uma criança é um terreno fértil e propício para todo o aprendizado, de tal forma que resultados positivos e negativos possam surgir ao longo de todo processo.
As implicações individuais e coletivas são muito maiores do que podemos imaginar. Rafi Cavoulkian, um trovador infantil, acordou de súbito e lhe veio uma frase curta na mente: "honrar a criança", ou seja, pais, professores, comunidade, sociedade como um todo, enfim, possibilitar e defender um mundo que honrasse suas crianças. Para Rafi, "honrar a criança significa respeitar a pessoa. Segundo ele, "as crianças estão aqui para aprender a própria canção".
Se seguirmos essa linha de raciocínio precisamos mudar muito no comportamento e atitudes dos adultos. O psiquiatra do desenvolvimento Stanley Grennspan, nos diz que: "A principal arquiteta da mente é a interação emocional, e não a interação intelectual. Por isso, a sensação de segurança das crianças, sua confiança no mundo suas relações com os outros, e principalmente, sua conexão consigo mesmas, com as próprias e autênticas emoções dependem da atenção, dos cuidados, da disponibilidade constante de cuidadores atentos, em sintonia com as necessidades dessas mesmas crianças, que sejam confiáveis e não estressados. Quanto mais estressados, perturbados, distantes forem os cuidadores, mais precária será a condição emocional da mente da criança.
Por que em nossa cultura e sociedade atual não conseguimos alcançar esse objetivo tão salutar à Vida? Tudo começa porque não conseguimos atender as necessidades da criança em desenvolvimento. Não é somente prover o alimento, as roupas, e todas as coisas materiais necessárias às crianças. Acima de tudo elas necessitam ser vistas, ouvidas, acariciadas, cuidadas, em todos os sentidos. É transmitir-lhes em palavras, ações, e presença constante em suas vidas e, sempre que possível, demonstrar que ela é amada assim como é; que ela pode falar e mostrar seus sentimentos e se abrir com os pais e cuidadores.
Algumas experiências da infância, para alguns, foram "regadas" com as sementes do amor, da consideração, do carinho, da atenção, da empatia, da segurança. No entanto, para outros tantos, quando essa nutrição emocional não se faz presente, o crescimento e amadurecimento psicológico fica comprometido. Por conseguinte, toda nossa vida futura, também estará emaranhada nessas experiências de dor e de insegurança.
A escritora Isi Golfetto, traz reflexões que nos faz pensar sobre a questão da expectativa. Ela questiona: "será que são as pessoas que nos decepcionam ou somos nós mesmos que nos decepcionamos quando esperamos encontrar nas pessoas o que idealizamos ou a imagem que criamos delas?"
Assim, as expectativas que nutrimos em nossas relações interpessoais causam frustrações, decepções e ressentimentos. Muitas dessas expectativas, porém, estão relacionadas com os nossos relacionamentos mais próximos. Isso é passível de acontecer porque projetamos inconscientemente um modelo de relacionamento "ideal" com nossos companheiros, nossos pais, filhos, chefes e amigos, sempre esperando que essas pessoas supram as nossas carências e necessidades internas.
Durante muito tempo as pesquisas diziam que os bebês necessitavam dos cuidados somente por causa de sua dependência e sua vulnerabilidade em relação ao alimento, calor e abrigo. Hoje, outras pesquisas nos mostram que as necessidades sociais e emocionais estão igualmente codificadas em nosso circuito neural e que todas elas precisam ser devidamente atendidas pelos pais e/ou cuidadores, para o bom desenvolvimento da criança e, consequentemente, do adulto saudável.
Em condições de amadurecimento emocional mais saudável, a autoestima da pessoa adulta será melhor, a percepção e aceitação de si, tal qual é e se apresenta, bem como sua autenticidade e valor próprio serão as bases para uma vida mais salutar favorecendo a autonomia e confiança para sua vida.
Texto: Ana Maria Favero Martin
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O importante é buscarmos autoconhecimento, cuidar das dores emocionais e traumas de nossa infância para, então poder exercer a "autoparentalidade" por si mesmo. Sem buscar supostos "culpados", ou seja, sem cobranças para com os pais, pois eles fizeram o melhor que puderam dentro da perspectiva que tinham em seu mundo interior. Os pais sempre fazem o melhor que podem; há que se considerar suas próprias dores de infância e histórias transgeracionais para compreender o que fizeram. A Vida é complexidade; não é simples.